*por Thaynara Siqueira Baumgartner

Sem a natureza não há turismo, uma frase que parece bem clichê, mas é o que norteia o principal setor turístico Brasil, o turismo de natureza. Um país com dimensões continentais, biomas diversos, alta taxa de endemismo da biodiversidade, com atrativos diversos em rios, terra, mar e ar, sem contar a diversidade dentro desses, e que infelizmente não é aproveitado em sua totalidade.

Segundo o FEM (Fórum Econômico Mundial), o Brasil fica em 1º lugar, num ranking de 136 países, em recursos naturais e 8º em recursos culturais. Olha só esse potencial! Mas, infelizmente não estamos cuidando muito bem desse patrimônio, e isso afeta diretamente o turismo.

Como já falado anteriormente, com toda essa riqueza poderíamos liderar o cenário mundial do turismo de natureza, mas infelizmente estamos estagnados (quiçá retrógrados) nessa corrida.

O turismo de natureza no Brasil ainda é meio amador, está engatinhando, por mais que existam grupos organizados para reverter esse quadro, como a própria ABETA. Tudo isso está muito atrelado à falta políticas públicas, não só de fomento do segmento, mas principalmente de proteção ambiental. E é aí que o bicho pega.

A ação antrópica pode afetar o ecossistema de várias formas, até mesmo com o turismo, mas o maior problema é que essa ação está ocorrendo de forma predatória e sem nenhum planejamento.

Quando há um incidente de proporções grandes – como por exemplo o caso de Mariana em 2015 e o derramamento de óleo no litoral nordestino em 2019 -, o turismo já sofre uma queda quase que instantânea, de aproximadamente 40%, segundo dados da BBC. Pior, essa queda mantém-se caso o desastre ambiental não seja controlado, e é por isso que a política pública precisa ser eficiente e rápida, para no mínimo conseguir segurar ou amenizar um pouco a queda.

E não para por aí, pois muitos locais de natureza exuberante que trabalham e vivem do turismo científico e preservacionista acabam sendo prejudicados – e eu ainda nem entrei no mérito de todos os problemas que ficam e como tudo isso afeta de forma negativa o meio ambiente. Toda uma rede de pesquisa, levantamento de dados e geração de renda e ações de conservação e monitoramento do meio ambiente tomam uma rasteira, e fica muito difícil se levantar, mas não impossível.

Tá bom, mas e aí? Como reverter o quadro?

Aí que tá a jogada do negócio. O setor de turismo no Brasil tem muito, mas muito mais voz que o setor de meio ambiente, afinal o turismo tem muito mais braços no setor econômico que o ambiental. Ele movimenta diretamente a rede hoteleira e gastronômica, duas redes que possuem gigantes no mercado, e ainda tem uma infinidade de setores que o turismo movimenta indiretamente.

Então, se a gente do turismo se organizar direitinho e gritar a plenos pulmões ”vamos arrumar a nossa casa e preservar o meio ambiente”, será difícil alguém não escutar.

O setor do turismo de natureza é quem faz a ligação entre duas pastas tão importantes, meio ambiente e economia. Afinal, com a natureza preservada conseguimos fazer a economia girar, e assim fortalecer o mercado interno, para todos, para os brazucas e para os gringos. E provas não faltam.

Há diversas pesquisas que mostram que apenas uma espécie da fauna ou da flora faz girar toda uma economia local baseada no turismo. É um efeito dominó, uma peça empurra a outra e toda a rede será contemplada. Mas para isso a primeira pecinha, aquela que desencadeia o efeito, precisa estar lá, guardada, preservada, presente.

Mas quem é aquela peça? É aquele animal ou planta, aquela praia paradisíaca, a montanha, a floresta, o rio, aquela natureza exuberante, a que chama, que faz o coração bater mais forte, a que faz com que prestemos mais atenção ao que nos rodeia.

E essa meus amigos, ahhhh, essa peça é o cerne do nosso turismo, que assim como nossa medula, se for enfraquecida ou lesionada, fará com que o movimento pare, não alcançará todos os setores, o efeito para, e sobrará tão somente a areia, o pó, a lama.

Se a primeira peça do dominó não estiver presente, aquela que pode ser chamada de NATUREZA, o futuro do turismo também não estará.