É possível entender o Turismo de Base Comunitária como o conjunto de iniciativas e atividades turísticas protagonizadas por comunidades locais e tradicionais que, quando bem estruturadas e gerenciadas, impacta positivamente a região. Nesta vertente do turismo, a troca de experiências entre visitante e o destino pode ser ainda mais genuína, com uma integração total na comunidade em questão. Além disso, através de uma gestão sustentável, pode fortalecer a cultura local, agregando valor aos roteiros oferecidos e gerando empregos e renda para a região.
E, quem, ou melhor, onde o Turismo de Base Comunitária, ou TBC, começa a se desenvolver e ganhar corpo é justamente no destino anfitrião do ABETA Summit deste ano, Ilhabela. O local reúne 17 comunidades tradicionais caiçaras ao todo e começou, em 2017, a implementar uma iniciativa de TBC em Castelhanos, uma das praias mais preservadas, belas e tradicionais da ilha.
Suas raízes vêm, principalmente, da mistura entre os indígenas que habitavam a ilha, com escravos africanos e piratas europeus que ancoraram em Ilhabela. Mesmo vivendo de forma isolada, os caiçaras criaram uma conexão muito próxima à natureza, com uma cultura baseada essencialmente na pesca, no artesanato e na gastronomia tradicional e típica dos seus ancestrais.
“A região de Castelhanos é uma das mais exploradas turisticamente na ilha, com alto fluxo de pessoas. Porém, as 2 vilas caiçaras, a do Canto Ribeirão e Canto da Lagoa pouco participavam da operação turística que já estava consolidada. Era uma participação tímida, restrita à venda de pescados aos quiosques e embarque e desembarque de turistas”, explica Daniella Marcondes, turismóloga, pesquisadora e consultora da Maembipe Ecoturismo, que atua diretamente no desenvolvimento do TBC nos Castelhanos junto à comunidade.
Ela conta que este foi justamente o grande desafio, uma vez que a proposta do TBC é empoderar e tornar a comunidade protagonista deste modelo. Como tudo tem sido de uma forma orgânica, foi preciso se organizar enquanto grupo e participar ativamente dos conselhos e câmaras temáticas, mapeando, assim, potenciais atores internos e externos para colaborarem com a iniciativa. E para isso a participação da Associação Castelhanos Vive e o engajamento dos atores locais foi e tem sido crucial para a formatação dos roteiros de TBC.
O Núcleo de Turismo Comunitário, criado em 2017, passou por um projeto de qualificação e capacitação para aprimorar e estruturar os roteiros de TBC. Isso preparou a comunidade caiçara para oferecer aos turistas a oportunidade de vivenciar momentos de prazer e diversão genuínos, integrados à natureza, ao mesmo tempo em que cuidam e zelam desta área ambiental preservada e tão rica que é Ilhabela.
As experiências através do TBC em Ilhabela
A troca, integração e conexão com outra cultura talvez sejam os grandes diferenciais do TBC, que se torna numa experiência transformadora ao turista, sem também deixar de tocar a quem recebe. Além de trilhas com guias locais, sempre agendadas, que oferecem o contato com a natureza e possibilidade de contemplação o roteiro de TBC em Castelhanos inclui visitas as vilas caiçaras.
Lá, uma vivência ainda maior, onde os turistas se hospedam e se alimentam de pratos típicos e receitas tradicionais, passadas de geração a geração.
Também é possível fazer parte de uma oficina de redes de pesca ou de cestaria e conhecer o artesanato típico, atividade também tradicional. Assim como a visita ao cerco, encabeçada por Ireneu De Souza Lúcio, pescador e presidente da Associação Castelhanos Vive.
“A pesca é uma atividade do nosso berço, a família toda trabalhava com o pescado. E com o TBC, a gente traz o turista para perto da gente, mostrando nossa tradição, valorizando nossa cultura. E para nós é muito importante e gratificante, inclusive pela sobrevivência da nossa comunidade”, explica Ireneu.
Durante o ABETA Summit, a comunidade de Castelhanos estará de braços abertos para receber para oferecer aos participantes experiências genuínas e inesquecíveis dos roteiros de Turismo de Base Comunitária.
“Estamos muito felizes por receber o grupo da ABETA Summit, por abraçar nossa causa e nos dar a oportunidade de mostrar nosso trabalho, divulgando nosso trabalho e construindo uma nova etapa para o nosso turismo”, finaliza Angélica dos Santos, membra do grupo de TBC dos Castelhanos.