É tudo mato mesmo? Conheça um pouco mais sobre as plantas que você encontra na natureza
Por Thaynara Siqueira Baumgartner*
Quem já não ouviu essa expressão “é tudo mato”, ao se referir a uma área de mata? Pois bem, caros besourinhos, existem muitas diferenças entre esses matos, e muita especificidade neles. Ao adentrarmos uma região de vegetação nativa de qualquer bioma, precisamos olhar com carinho e atenção aos mínimos detalhes. As plantas nos contam seus segredos de diversas formas, e uma delas é por suas folhas.
As folhas são um órgão das plantas, responsável pela produção energética e respiração. É através das folhas que as plantas captam luz solar e gás carbônico e produzem glicose. Assim como é através das folhas que as plantas respiram, como nós, consumindo oxigênio e liberando o gás carbônico, processo inverso ao da fotossíntese.
Para conseguir fazer um processo tão elaborado como a produção de glicose a partir de água, luz e sais minerais, é necessário um aparato muito específico e muito desenvolvido em suas células. Da mesma forma é preciso que o órgão que contém esse tipo de aparato também seja bem desenvolvido para o ambiente em que se encontra, como local seco, úmido, muita ou pouca luz solar.
Observação é tudo: quais os tipos de plantas e folhas?
Ao olhar com atenção as folhas das plantas, conseguimos até mesmo identificar os grupos o qual cada planta pertence, e dessa forma entender melhor suas características, propriedades e entender sua função naquele ecossistema.
O tipo de folha diz muito sobre a planta. Pensa comigo nesse exemplo: plantas que são de locais mais sombreados geralmente possuem folhas bem grandes e verdes mais escuros, e plantas de locais mais ensolarados folhas menores, muitas vezes mais finas e com tonalidades mais claras de verde. E tudo isso tem um motivo.
Ao detalharmos as folhas, se tem espinhos ou não, se são serrilhadas, largas, oblongas, suculentas, nervuras paralelas ou perpendiculares, etc, tudo isso nos ajuda a identificar suas famílias e tipo de bioma que pertencem.
Por exemplo, espécies de árvores de matas nebulares têm disposição foliar diferente de árvores do litoral. Plantas de matas de altitude, como a araucária, conseguem absorver umidade do ar por suas folhas, enquanto cactos conseguem guardar água em seus tecidos, e canelas conseguem ter uma camada bem grossa contra desidratação em suas folhas. Plantas de locais mais secos normalmente possuem folhas mais duras e com proteção a desidratação. Já as de locais mais úmidos possuem folhas mais macias e sem tanta cera… Enfim, há uma infinidade de exemplos.
As plantas de uma mesma família possuem características parecidas. Para descobrir a espécie de determinada planta e entender melhor sobre ela, aqui vão algumas dicas:
– Tire foto das folhas sozinhas e no galho, e procure sempre utilizar uma escala, um objeto para comparação. O tamanho e a disposição das folhas é muito importante na identificação, e a escala é crucial;
– Se houver sementes, frutos ou flores, tire fotos, mas também com escala. Algumas plantas possuem identificação mais difícil, e muitas vezes somente com esses elementos é possível descobrir a espécie com exatidão;
– Nunca prove frutos de plantas que desconhece! A regra de “se passarinho come podemos comer” é pura balela! As fotos com escala desses frutos é mais do que suficiente na identificação;
– Ao retirar uma folha, note se há a liberação de algum líquido e sua coloração, isso ajuda muito na identificação das famílias botânicas;
– Tire foto do tronco da árvore, mas não a machuque! Existe uma cultura de tirar lascas ou fazer feridas nos troncos para descobrir a espécie, e isso não é um método efetivo de identificação botânica, além do fato de que essas feridas feitas na planta a expõe a fitopatógenos, que podem causar doenças e até mesmo levá-la a morte, assim como não se marca árvores com facão para marcar trilha, seja consciente!
Então na próxima vez que desfrutar de uma caminhada num ambiente natural, tente decifrar as mensagens que as plantas nos passam e dessa forma entender mais do meio ambiente que está visitando!
*Bióloga e professora, Thaynara é Diretora de Capacitação e Sustentabilidade da ABETA e sócia da Mantiqueira Ecoturismo. Ela acredita que é preciso conhecer a natureza para poder para amar, cuidar e preservar, sempre pensando no eco e tentando minimizar o ego. Condutora ambiental de caminhadas e passeios 4×4, ministra cursos em ecoturismo, educação ambiental e turismo sustentável. Também é instrutora de cursos de manejo de animais peçonhentos, hiking e turismo fora de estrada.