por Fernando Pieroni*
A existência de parques e áreas verdes bem cuidadas e acessíveis à população é uma necessidade real nos dias de hoje. Afinal, oferecem inúmeros benefícios, que vão desde um ambiente propício à prática de esportes ou de lazer com a família, aumentando o bem-estar da população e amenizando o estresse da vida cotidiana, até a proteção do meio ambiente e conscientização da sociedade sobre a importância desses espaços. Além disso, quando trabalhados do ponto de vista do turismo, podem contribuir para a geração de renda, empregos, e, consequentemente, para o desenvolvimento econômico e social das comunidades do seu entorno.
Entretanto, a despeito desses benefícios e potencialidades, o que se observa é que a cultura de visitação dos parques e as políticas públicas voltadas à sua valorização são incipientes no país. Um estudo publicado recentemente pelo Instituto Semeia indica que 64% dos respondentes visitam parques naturais de forma esporádica (menos de uma vez por ano), o que demonstra a enorme oportunidade ainda subexplorada de aproximação das pessoas com a natureza.
Mas, afinal, por que isso acontece? O mesmo estudo levantou que o principal fator para a baixa visitação aos parques é de ordem econômica, muito associado aos custos relacionados a transporte e hospedagem (52% dos respondentes afirmam isso), que não necessariamente são superiores ao que gastamos quando decidimos, por exempli, ir à praia. Outra alegação é que os parques estão muito distantes (29%), algo também curioso se considerarmos que a entrevista foi realizada em regiões metropolitanas que possuem parques naturais em seu território. Outra razão alegada é a falta de informações mínimas sobre seus atrativos e condições de visitação (12%). Enfim, sinais claros da precariedade com que promovemos e valorizamos nosso patrimônio natural.
E o que podemos fazer para mudar essa realidade? Existe hoje um entendimento crescente de que as parcerias com a iniciativa privada podem ser uma saída inteligente para o Brasil promover o seu patrimônio público. E, nesse sentido, o que eram casos isolados alguns anos atrás, hoje representam mais de 60 parques sob alguma iniciativa governamental de parceria com entidades privadas, nos níveis federal, estadual ou municipal.
O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu é um bom exemplo. Atualmente sua gestão tem sido realizada por meio de uma cooperação entre o ICMBio (órgão nacional responsável pela gestão de unidades de conservação) e o Instituto Ekos (uma entidade sem fins lucrativos da sociedade civil). Um dos principais aspectos dessa parceria é o Fundo Peruaçu, que busca captar recursos financeiros provenientes de doações de entidades privadas e públicas para assegurar uma gestão contínua, transparente e de qualidade, permitindo que o parque ofereça melhores estruturas para a conservação e a visitação.
Mas as parcerias também podem ir além das ONGs e envolver a concessão com entidades empresariais. Este é ocaso, por exemplo, do Parque Nacional do Iguaçu e do Parque Nacional de Fernando de Noronha, que concederam parte de suas atribuições relacionadas ao turismo e infraestrutura ao setor privado, ajudando a melhorar as áreas de lazer, além de diminuir custos, permitindo que os órgãos gestores dediquem suas atenções à proteção da biodiversidade.
Se desenhadas adequadamente, com o cuidado de se criar um cenário de ganha-ganha-ganha para a população, governo e entidades privadas, as parcerias podem efetivamente contribuir para a oferta de áreas verdes bem cuidadas e acessíveis à população e fazer com que cada vez mais elas cumpram com o seu importante papel de promoção da conservação da biodiversidade, lazer, saúde e bem-estar das pessoas, além do desenvolvimento socioeconômico de seu entorno.