Num momento dramático de enfrentamento da Covid-19 por todos os setores da sociedade brasileira, é dever da ABETA reafirmar os compromissos com a agenda da preservação ambiental e da manutenção do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Enquanto a atenção e os esforços são concentrados na crise sanitária, cujo desempenho por parte dos governos é desastroso e preocupante, observamos uma ofensiva aos já ameaçados biomas brasileiros, com o aceno de flexibilização de normas ambientais além de consideráveis retrocessos nos órgãos de fiscalização.
É incontestável o papel das reservas naturais na manutenção da biodiversidade, amortização dos efeitos climáticos e promoção de desenvolvimento sustentável, ainda que ecos de um irresponsável obscurantismo neguem os efeitos antrópicos e enxerguem a economia apenas pela ótica da extração primária e expansão das fronteiras agrícolas. Com operações de turismo de baixo impacto em diversos territórios de todos os biomas brasileiras, os associados da ABETA contribuem, no exercício cotidiano de seu ofício, para aproximar paisagens e visitantes e assim promover a sustentabilidade dos ecossistemas e comunidades.
Segundo o documento “Contribuições do Turismo em Unidades de Conservação para a Economia Brasileira”, publicado em 2018 pelo ICMBio, os recursos movimentados pelos 10 milhões de visitantes nos municípios de acesso aos parques brasileiros em 2017 foram da ordem de R$ 8 bilhões, com geração de aproximadamente 80 mil empregos.
Correlacionando esses números com o orçamento destinado à manutenção das UC’s, o estudo conclui que a cada R$ 1,00 investido obtém-se o retorno de R$ 7,00 para as economias locais. Logo, o investimento na preservação ambiental, contrariando a concepção comum de apenas uma despesa para o erário, demonstra um potencial concreto para geração e distribuição de renda, alcançada por guias, condutores e uma série de empreendimentos de pequeno e médio porte.
Embora importante para sensibilizar o pragmatismo econômico dos gestores públicos, tal mensuração não deve ser o elemento preponderante na defesa da preservação ambiental. Na lista de benefícios devem ser incluídos os serviços ecossistêmicos, como os rios voadores provenientes da umidade amazônica e cuja perturbação de fluxo atualmente impacta os estados do Sul e do Sudeste com uma severa seca.
Destacam-se ainda as atividades de extrativismo nas RESEX (Reserva Extrativista), RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) e FLONAs (Floresta Nacional), responsáveis pela subsistência de diversas comunidades tradicionais, cuja dependência das florestas traduz-se em uma relação simbiótica de preservação e manutenção da vida.
Ressaltamos, por fim, o alerta sobre diversas doenças que surgem por conta de desequilíbrios ambientais gerados pela ação antrópica, fato cientificamente comprovado por estudos diversos. Tais desequilíbrios forçam interações ecológicas inexistentes em meio natural, favorecendo o surgimento de novos patógenos que afligem a espécie humana, trazendo um custo econômico para sua mitigação e custando muitas vidas. Vidas que se perdem simplesmente pelo desrespeito ao meio ambiente, fazendo uso da natureza de forma não sustentável e desrespeitosa.
Com um cenário apontando para a regionalização e busca por experiências mais naturais e autênticas no pós-Covid, é crucial a união de todas as esferas do turismo de natureza para manutenção do seu bem maior, as Unidades de Conservação, que promovem a sustentabilidade social, econômica e ambiental. E proporcionando a todos os cidadãos o direito a um usufruto harmonioso das nossas belezas naturais.