*por Thaynara Siqueira Baumgartner

Há algum tempo tem se falado muito sobre o que se fazer com o lixo na trilha, principalmente orgânico, quando estamos no ambiente natural. E esse debate tem aumentado ainda mais por conta de uma corrente que se espalha com a instrução de jogar as sementes de nossas frutas na mata a fim de ajudar na recomposição da mesma.

Apesar de ser uma ideia bonitinha com uma intenção boa, recomenda-se NUNCA jogar o seu lixo na trilha, nem mesmo o orgânico ou as sementes das frutas. “Ah, mas é orgânico, vai virar composto para o solo”, essa deve ser a primeira coisa que passou pela sua cabeça, não é mesmo? Bom, vamos explicar o porquê de não fazer isso.

Digamos que o ambiente natural, aquele que você pratica a vida ao ar livre, seja um gigantesco jogo de Jenga, em que cada peça é um ser vivo e seu nicho ecológico e toda a torre representa um ecossistema completo. A partir do momento que você tira alguma peça ou coloca uma peça nessa torre, a estabilidade dela estará comprometida, fazendo todos ali perderem o equilíbrio. A peça que você está colocando a mais nesse jogo hipotético é o lixo orgânico e a semente que você deixa na trilha, ou seja, nada legal, e motivos não faltam.

A variedade de nossa biodiversidade é gigantesca, mas isso não quer dizer que ela abranja todas as espécies que estão em nossa alimentação cotidiana. A partir do momento que você descarta o resto de uma fruta com sementes num ambiente natural, aquilo pode brotar e crescer. “Nossa que legal, mais uma árvore!” – NÃO! Não é legal. Apesar de ser uma planta, nem todas elas são nativas daquele ecossistema que você está visitando, e ao fazer a dispersão de uma semente de uma espécie exótica você estará contribuindo com o desequilíbrio daquele bioma.

Muitas dessas espécies polinizam, brotam e se reproduzem com muita facilidade, e as espécies de plantas nativas não conseguem competir, o que contribui com a diminuição da polinização e a dispersão das sementes das nativas pelos animais. O fator da endogamia em espécies exóticas já é problema ambiental suficiente para tentarmos controlar. Sendo frutíferas ou não, as espécies nativas não conseguem muito sucesso ao competir com as exóticas, ainda mais quando muitas delas precisam de quebra de dormência de suas sementes passando pelo trato digestório de aves, e somente assim brotar.

Por esses motivos, acaba sendo uma competição desleal para as espécies nativas. Além disso, ainda existem diversos outros fatores a serem analisados para você definitivamente não jogar seu lixo na trilha: taxa de polinização, se os animais deixarão de polinizar a espécie nativa porque ficam na exótica, cobertura vegetal, amensalismo (como a maior parte dos pinus), toxicidade das plantas exóticas para os animais, etc.

E a questão do lixo orgânico também é um problema. Nem todo resto de comida decompõe rapidamente – dependendo do que for pode levar de 2 meses a 3 anos para virar substrato. Isso é tempo suficiente para a fauna encontrar aquele lixo (mesmo se estiver enterrado) e se alimentar dele, entrando em contato com as nossas bactérias (que podem ser nocivas a eles), com conservantes, agrotóxicos e uma série de químicos que possam estar nos alimentos.

Sendo assim podemos concluir que NADA SE DEIXA NA TRILHA. Se você conseguiu levar até lá, tenho certeza de que conseguirá trazer de volta, não é mesmo?

A única coisa que devemos deixar na trilha é a nossa pegada, nada mais além disso. E quanto mais consciente e ecológica ela for, melhor!