por Dick Carlos de Geus
O sistema de cooperativismo é muito diferente dos outros sistemas mercantis e, talvez poderíamos dizer que é um sistema que navega entre o capitalismo e o socialismo por ter aspectos de mercado e sociais na sua essência e princípios. Os seus valores baseiam-se na igualdade, solidariedade e ajuda mútua, procurando o bem-estar das pessoas envolvidas na sua atividade econômica.
A primeira cooperativa surgiu, segundo pesquisas, na Inglaterra, em 1844, aonde 28 tecelões se uniram e formaram a Sociedade dos Probos de Rochdale, que buscaram na cooperação solidária a solução para os graves problemas econômicos causados pela concentração de capital. Portanto, uma organização mais social que se contrapunha a desigualdade crescente produzida pelo sistema capitalista, através da polarização entre ganhadores e perdedores de um regime competido. Neste sistema existe a igualdade entre seus membros, independente da produção de cada um, o voto numa assembleia cooperativa é da pessoa associada e não do capital como numa sociedade anônima. Os seus membros, ao invés de competir, devem cooperar entre si.
Quando as pessoas se juntam para o bem comum, são mais fortes, como diz o velho ditado ‘a união faz a força’. Cooperar significa a união de todos, no esforço de cada um.
No município de Carambeí-PR, aonde nasci, me criei e resido, surgiu a primeira cooperativa de produção do Paraná e a segunda do Brasil. Em 1925 sete imigrantes holandeses, entre os quais meu pai e meu avô, para poderem sobreviver, fundaram uma pequena cooperativa de leite com uma produção diária de menos de 200 litros. Denominada Batavo, hoje Frisia, se intercooperou com outras cooperativas, tais como Castrolanda, de Castro e Capal, de Arapoti. Elas, que também foram formadas por imigrantes holandeses e hoje estão totalmente integradas com a grande maioria dos agropecuaristas dos Campos Gerais do Paraná, juntas tiveram um faturamento de 6,2 bilhões de reais em 2016! Número expressivo, alcançado através da produção e industrialização de leite, carnes, soja, milho, feijão e trigo.
Tudo graças a semente plantada em 1925 por esses poucos colonos.
O solo do cooperativismo no Paraná frutificou desde então e é o mais fértil do Brasil, a exemplo das 70 cooperativas agropecuárias que representam 60% do PIB do setor, exportaram em 2016, R$ 7,3 bilhões, geraram 2,8 milhões de postos de trabalho e faturaram, somadas com as cooperativas de saúde, crédito e transporte, mais de R$ 70 bilhões.
Mas não é só no agronegócio que o cooperativismo fincou raízes, a Cooptur-Cooperativa Paranaense de Turismo foi a primeira cooperativa de empreendedores de turismo do Brasil e nasceu aqui no Paraná. Reunimos cerca de 80 associados entre hotéis, restaurantes, atrativos organizados, guias e condutores, artesãos, grupos folclóricos e outros empreendedores do trade turístico, presentes em 14 cidades.
Com o nosso trabalho procuramos fortalecer a atividade turística como um todo, gerando através dos cooperados, renda, riqueza e desenvolvimento sustentável. Não é uma tarefa fácil, mas tenho convicção que nossa cooperativa representa um diferencial para que os nossos associados alcancem a excelência de serviços e contribuam para o desenvolvimento do turismo no Paraná e no Brasil.
É difícil imaginar o Paraná sem as cooperativas. Em mais de 120 municípios paranaenses, elas são as maiores empresas, proporcionando resultados que são reaplicados onde originalmente são gerados, revertendo em benefícios socioeconômicos positivos à população local. Numa empresa capitalista, boa parte dos resultados gerados é direcionado para os seus acionistas que são de outras regiões, ou países.
Uma cooperativa é como uma planta que deve ser cultivada e regada permanentemente para que os seus membros continuem fieis aos princípios e valores do sistema. A OCEPAR – Organização das Cooperativas do Paraná, promove e coordena com extrema eficácia, entre outras atribuições inerentes a ela, cursos, palestras e seminários com todas as cooperativas do Estado, visando capacitar cooperados e dirigentes na filosofia do sistema. Uma pessoa quando se associar a uma cooperativa deve entender como ela funciona e quais são os seus direitos e obrigações.
A minha convicção é de que não existe no mundo um sistema mercantil mais justo, igualitário, solidário e democrático que uma cooperativa porque o seu capital é a pessoa e não o dinheiro.
O lema da minha cooperativa, da qual sou associado há 55 anos, é “ninguém de nós é tão bom quanto todos nós juntos”, e após 91 anos de existência ela continua sendo o esteio de todos os seus associados, sejam eles pequenos, médios ou grandes produtores, porque sabem e sempre souberam, que juntos serão mais fortes!
Dick Carlos de Geus
75 anos é bacharel em direito e dedicou toda sua profissional ao cooperativismo. Foi presidente das Cooperativa Central de Laticínios do Paraná, da Cooperativa Batavo e da OCEPAR (Organização das Cooperativas do Paraná), foi ainda vice-presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). Atualmente é o Presidente da COOPTUR Cooperativa Paranaense de Turismo.