Três anos depois, a história se repetiu: o rompimento de uma barragem com rejeitos de minério de ferro que desaguou em um rio brasileiro, desta vez na cidade de Brumadinho-MG – onde fica o incrível Instituto Inhotim. Como isso pôde acontecer tão pouco tempo depois beira o inacreditável. Um dos fatores certamente é o descaso com que, infelizmente, o nosso país lida com políticas ambientais historicamente.

Em primeiro lugar, nos solidarizamos completamente com o povo mineiro e com todos os que estão envolvidos na operação de resgate e apoio às vítimas.

Entretanto, além da tragédia da perda e do desaparecimento de dezenas e dezenas de pessoas, outra questão gravíssima ainda terá diversas consequências. Embora muito difícil de ser calculado, o impacto ambiental negativo que o rompimento da barragem com toneladas de resíduos com metais pesados vai acarretar ao longo dos dias.

O desastre é extramente grave. No fundo, o eixo de tudo é a forma como tratamos o meio ambiente no Brasil. É claro que é fundamental que medidas sejam tomadas e que o que ocorreu em Mariana e em Brumadinho não volte a acontecer. Mas precisamos ir além disso. precisamos lidar de uma maneira próativa e fazer com que a legistação ambiental, que é bastante efetiva no papel, seja cumprida na prática.

Na Abeta, temos o meio ambiente como parte intrínseca e fundamental do que vivemos. Afinal, a preservação e o uso sustentável dos recursos naturais é o “habitat natural” dos profissionais que fazem parte da nossa associação.

Precisamos olhar para esta tragédia como uma oportunidade de dizer, em alto e bom som que “não, as coisas não podem continuar como estão!”. Se quiser ler mais sobre as consequências ambientais, clique aqui.

A preservação ambiental

Não é apenas o vazamento da lama com rejeitos de minério. A partir de Brumadinho, são toneladas de resíduos que ao longo da passagem dos rios vão ser depositados nos leitos e nascentes. O trabalho de agora é fundamental pra minimizar os desdobramentos. E temos a certeza: temos potencial pra mudar o que está acontecendo, mas precisamos levar a sério tudo o que tem se passado.

Entre as principais bandeiras da Abeta estão a preservação ambiental e a sustentabilidade. Faz parte da missão que acreditamos ser inerente a quem trabalha com turismo conscientizar os turistas e causar o mínimo impacto ambiental possível. Não temos dúvidas de que turismo é, também, educação.

É neste ponto que vem outra importante constatação. O descaso já citado do nosso país com as políticas ambientais também é sentido no turismo, mais especificamente o turismo de natureza.

Os números do turismo de natureza

Uma das coisas que alimenta esta situação vivida pelo meio ambiente é exatamente a forma como nós, enquanto nação, (não) valorizamos a nossa exuberante natureza. Falar de números quando o assunto é preservação ambiental pode parecer sem sentido, mas continue que tudo vai se explicar até o final do texto.

De acordo com relatório do ano passado da Organização Mundial do Turismo, o Brasil arrecadou, em 2017, US$ 7 bilhões com turistas estrangeiros, o que torna o turismo o quinto “produto” brasileiro na pauta de exportações.

Como efeito de comparação, a Austrália, um país com exuberância natural similar à do Brasil, teve uma receita de mais de US$ 41 bilhões vinda dos turistas estrangeiros – um aumento de quase 6 vezes em comparação com o Brasil. Para ler mais sobre estes números, clique aqui.

Agora vem a informação que explica o que estes dados estão fazendo no texto: no ano passado, o Brasil exportou cerca de US$ 20,5 bilhões em minério de ferro, tornando-se o produto brasileiro mais exportado em 2018. A que custo?

Isso nos traz pelo menos dois aspectos importantes:

– temos a certeza de que o turismo, especialmente o de natureza, tem um enorme potencial de desenvolvimento econômico;

– que, caso isso ocorra, a atividade de preservação ambiental será algo muito mais natural por aqui. Afinal, se as pessoas conviverem mais com o meio ambiente, o sentimento de cuidar será aguçado.

Será que já não passou da hora da preservação do meio ambiental ser um dos assuntos principais da pauta de políticas públicas do Brasil? As questões ambientais não podem ser assuntos de nicho, relegados a alguns grupos.

Precisamos, e podemos, estar juntos trabalhando para isso. Se “apenas” a preservação do meio ambiente não for suficiente, que a agenda econômica e o potencial de desenvolvimento que ele pode trazer para o país, não só em receitas mas também em geração de empregos.

Enquanto isso não acontece, vamos ficar chorando as nossas tragédias e aplaudindo iniciativas e exemplos de outros países.