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Turismo de Natureza como aliado na conscientização ambiental

O turismo de natureza tem crescido consideravelmente no Brasil — isso é fato, e já abordamos esse assunto em outros textos aqui no blog da Abeta. Mas há uma pergunta que não me sai da cabeça: será que esse aumento no número de visitantes em áreas naturais vem acompanhado de um crescimento equivalente na consciência ambiental? Entendo que a comparação envolve unidades de medidas diferentes, uma quantitativa e a outra mais qualitativa, no entanto a pergunta ainda me persegue.

Existe um mantra muito conhecido por quem atua na conservação: “conhecer para conservar” — ou ainda: “só se ama o que se conhece”. Essa é uma premissa que orienta muitas das ações e discursos no universo ambientalista e, de certa forma, também no ecoturismo. Conhecer a natureza é o primeiro passo para valorizá-la, respeitá-la e, principalmente, defendê-la.

Mas deixe-me trazer mais algumas informações. São inúmeras as pesquisas que apontam os benefícios que o contato com a natureza proporciona ao ser humano. O conceito japonês de “Shinrin-yoku”, ou “banho de floresta”, é um ótimo exemplo. Criado nos anos 1980, ele define as visitas às áreas naturais como terapias para corpo e mente, e os estudos comprovam: caminhar por trilhas, respirar o ar puro da mata ou simplesmente ouvir o som dos pássaros pode reduzir o estresse, melhorar o humor e até fortalecer o sistema imunológico.

Mas continuo me perguntando: quantas dessas experiências realmente geram mudanças permanentes nos hábitos das pessoas? Ainda não encontrei uma pesquisa específica que me mostre de forma direta esse impacto no pós-viagem — ou seja, que correlacione a visita a um parque ou ambiente natural com mudanças concretas no dia a dia dos visitantes. No entanto, o número de relatos pessoais e percepções é imenso. Eu mesmo me incluo nessa estatística: depois de viver experiências imersivas na natureza, minha maneira de consumir, descartar e até de me locomover mudou. Mas não só isso, no meu caso foi mais profundo, mudei até de carreira. A natureza nos ensina e transforma quando estamos abertos a escutá-la e senti-la.

Falta de conhecimento leva à negligência ambiental

O fato é que o analfabetismo ambiental ainda é uma realidade persistente no Brasil. Esse termo, que ganhou destaque pela primeira vez na Rio-92 — a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento — descreve a falta de conhecimento, compreensão e envolvimento das pessoas com as questões ambientais. E, infelizmente, o avanço rumo a uma consciência ecológica mais ampla ainda ocorre de forma lenta.

Já presenciei casos de negligência em nome do lucro rápido, áreas super exploradas, regras ignoradas, e impactos ambientais — e sociais — logo surgindo. É a velha história da “galinha dos ovos de ouro”. Quando a exploração ultrapassa os limites, quem perde não é somente o meio ambiente, mas as comunidades locais e o próprio turismo.

Felizmente, acredito que esses casos ainda são exceções. Há muita gente comprometida em fazer diferente, em buscar não só a sustentabilidade, mas avançar para o que já chamamos de turismo regenerativo — aquele que não apenas causa menos impactos, mas que deixa o lugar melhor do que encontrou.

A responsabilidade de instituições e agentes de ecoturismo

Por isso, acredito que todos os envolvidos com o ecoturismo — empresas, guias, condutores, associações, institutos, unidades de conservação, governo — têm uma responsabilidade gigantesca nas mãos. Não apenas pela função econômica e turística que exercem, mas porque são agentes de transformação e de transmissão de conhecimento. Afinal, nem todos que visitam uma área natural entendem que dependemos diretamente da natureza: da água que bebemos, do ar que respiramos, da sombra, do alimento — e, no caso específico do turismo de natureza, dependemos também do espaço natural como cenário e essência da experiência turística.

Assim, deixo aqui algumas perguntas provocativas – tanto para quem consome o turismo de natureza, quanto para quem atua como agente de transformação:

– O que você tem feito para deixar os lugares que visita em melhores condições do que encontrou?
– O que a natureza te ensinou que você já incorporou no seu dia a dia?
– E na sua operação turística, quais ações você adota para inspirar mais consciência ambiental nos seus clientes?

É no coletivo que vamos conseguir as mudanças que queremos. E que bom saber que não estamos sozinhos.

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Sérgio Espada

Produtor audiovisual, documentarista e voluntário dedicado às unidades de conservação brasileiras, é também engenheiro mecânico e administrador de empresas.
Desde 2018, é idealizador do Projeto Parques Nacionais, pelo qual já produziu 10 filmes abordando temas como conservação, sustentabilidade, biodiversidade e a relação entre o ser humano e o meio ambiente. Atua ainda como produtor na Geeteê Filmes e como instrutor de vida ao ar livre na Outward Bound Brasil (OBB).