Turismo de Natureza e Audiovisual: o impacto de filmes, séries e redes sociais nos destinos

Vivemos em um mundo onde a produção de conteúdo audiovisual atinge níveis jamais vistos antes. É evidente que esses conteúdos influenciam diretamente a forma como as pessoas escolhem seus destinos turísticos. Entre os diferentes tipos de viagem, o turismo de aventura, focado em parques naturais e unidades de conservação, não está imune a essa tendência e tem atraído cada vez mais visitantes (veja ao fim do texto um link com a pesquisa recente do Instituto Semeia sobre o tema). Mas será que essa relação entre a produção de conteúdo e a visitação é realmente benéfica?

Making Off Projeto Parques Nacionais – Serra da Canastra – Acervo Proj. Parques Nacionais

A popularização dos destinos naturais

Com a visibilidade crescente, os destinos naturais se tornaram verdadeiros objetos de desejo para os turistas. Conteúdos audiovisuais, como filmes e séries, têm o poder de transformar qualquer lugar em um destino cobiçado. Basta ver imagens impressionantes de paisagens ou aventuras visuais para dar vontade de viver aquela experiência pessoalmente.

Produções cinematográficas como o filme America Wild: National Parks Adventure (2016), frequentemente destacam a grandiosidade dos parques nacionais e sua importância para a saúde dos seres humanos e das espécies que ali habitam. Além disso, as redes sociais, com sua grande capacidade de disseminação, potencializam ainda mais a procura por esses locais, o que, no fim das contas, pode impulsionar a economia local e promover a conscientização sobre a preservação ambiental.

Banner de divulgação do filme “National Parks Adventure”/material promocional do filme

Por outro lado, a exposição de certos destinos naturais também traz desafios. A crescente procura por parques e unidades de conservação pode resultar em uma pressão enorme sobre a infraestrutura, gestão e até os ecossistemas locais. Casos bem conhecidos, como as ilhas Phi Phi Leh, na Tailândia, e Comino, em Malta, mostram que é preciso cautela.

O primeiro exemplo ficou famoso depois do filme A Ilha (2005), estrelado por Leonardo DiCaprio. Após o sucesso do filme, o lugar, na Tailândia, passou a receber até 6.000 turistas por dia, e acabou sendo fechado em 2018 para se recuperar. Reabriu em 2022, mas com um limite no número de visitantes, devido às novas regras de preservação.

A ilha Comino, que também ficou popular por filmes como O Conde de Monte Cristo (2002) e Troia (2004), além da série Game of Thrones (2011-2019), viu sua fama disparar, especialmente por conta das redes sociais. Com apenas 3 km por 5 km de área, chegou a receber até 10 mil visitantes por dia. Atualmente, está passando por uma reestruturação para reduzir o número de turistas pela metade, com foco na proteção de seu frágil ecossistema.

Cena do Filme “Parque Nacional da Serra da Bocaina”/acervo projeto Parques Nacionais

Educação, conscientização e turismo sustentável

Apesar de existirem preocupações sobre a divulgação de destinos naturais se transformando em um problema para a natureza e para os próprios turistas, a solução está em como esses lugares são apresentados.

As produções audiovisuais são poderosas ferramentas educativas, especialmente em um mundo onde as telas nos conectam o tempo todo. Elas têm o poder de informar o público sobre a ecologia, cultura e história dos destinos naturais. Documentários como Os Parques Nacionais Mais Fascinantes do Mundo (2022), narrado por Barack Obama, vão além das belas imagens e educam sobre os impactos das mudanças climáticas, os riscos para a fauna e flora e como a ação humana afeta o meio ambiente.

Making Off Projeto Parques Nacionais – Cavernas do Peruaçu/acervo Projeto Parques Nacionais

As produções audiovisuais educativas têm o potencial de orientar os turistas sobre como visitar destinos naturais de maneira responsável, além de ensinar a respeitar as regras e diretrizes dos locais visitados. Mais do que isso, através de narrativas que conectam o público emocionalmente com o local, essas produções geram um impacto duradouro, influenciando a maneira como as pessoas viajam, consomem e interagem com o meio ambiente.

O equilíbrio

A relação entre audiovisual e turismo é uma faca de dois gumes. De um lado, essas produções ajudam a divulgar destinos naturais, do outro, a superexposição pode resultar em superlotação e até danos irreversíveis à natureza.

Enquanto os conteúdos educativos e engajantes têm a vantagem de promover uma compreensão mais profunda dos destinos naturais e dos desafios da conservação, as redes sociais oferecem uma plataforma rápida e visual que cria um desejo imediato de viajar.

O segredo está em encontrar um equilíbrio na forma como mostramos esses lugares ao público. Para que o turismo seja realmente sustentável, é fundamental fornecer conteúdos educacionais de qualidade, que ajudem a cultivar uma mentalidade a longo prazo, garantindo que os destinos naturais sejam preservados para as futuras gerações, tanto em sua essência quanto em sua beleza.

O turismo de aventura, quando bem gerido, é um grande aliado na preservação ambiental e na geração de empregos. Mas isso só vai acontecer se houver uma conscientização coletiva sobre a importância de proteger os espaços naturais. E é aí que o audiovisual entra como uma ferramenta poderosa para aumentar a conscientização e engajamento.

E você, o que acha? Já visitou algum destino natural depois de ver um filme, série ou conteúdo nas redes sociais?

Referências:
Pesquisa Instituto Semeia: https://semeia.org.br/biblioteca/publicacoes/visitometro-dos-parques-do-brasil/

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Sérgio Espada

Produtor audiovisual, documentarista e voluntário dedicado às unidades de conservação brasileiras, é também engenheiro mecânico e administrador de empresas.
Desde 2018, é idealizador do Projeto Parques Nacionais, pelo qual já produziu 10 filmes abordando temas como conservação, sustentabilidade, biodiversidade e a relação entre o ser humano e o meio ambiente. Atua ainda como produtor na Geeteê Filmes e como instrutor de vida ao ar livre na Outward Bound Brasil (OBB).